Minha vida se resumia em acordar bem cedo, pegar 2 horas de trânsito pra ir pro trabalho e 3 metrôs bem apertadinhos pra voltar, ficar 9 horas claustrofóbicas num escritório – mais precisamente na frente de um computador – pra então poder me libertar ao mundo. E o mundo em questão era chegar em casa, tomar banho e dormir – exausta. Até que um dia, um pensamento mais promíscuo passou pela minha cabeça: “e se eu trabalhasse em casa?”.
Graças a algumas obras do destino, escrevo agora pra você diretamente do aconchego do meu lar. Mas como nem tudo é perfeito nessa vida…
Hoje eu tentei me concentrar em escrever meus textos e pra dar aquele UP fui na cozinha fazer um café. É, em casa eu tenho que fazer pois ele não se constitui magicamente sozinho como no escritório em que eu trabalhava. Era um milagre da natureza – ou das mãos da copeira maravilhosa que trabalhava lá – todo dia as 16h aquele café quentinho e pronto pra ser bebido. E enquanto eu fazia esse serviço aqui em casa, foi inevitável olhar pra pia e perceber uma louça que parecia ter vindo do final de uma festa de 15 anos. Tive que arrumar.
Aproveitei o pique de faxina e também dei uma geral em outros cantos da casa, meu quarto e a minha mesa de trabalho porque com bagunça eu nem consigo pensar. Aí lembrei que também tinha que lavar umas roupas, e consequentemente ficar atenta pra colocar tudo pra secar porque roupa molhada mofa e ninguém aqui gosta de mofo né? Fiz tudo isso, mas sabendo que precisava voltar logo pro computador e trabalhar.
Até que todo esse desgaste físico deu fome e fui fazer um lancho. E como não tinha muita coisa em casa, tive que usar toda a minha criatividade do dia para solucionar a questão: o que fazer com 2 ovos, acelga, yogurte grego e barbecue? Vamo usar a cebecinha, porque nos dias de hoje todo mundo é muito criativo e tem solução pra TUDO. Eu poderia tranquilamente achar um tutorial no YT pra me ajudar com isso e me sentir burra depois por não ter tido essa ideia tão óbvia antes.
Voltei pro computador mas minha irmã apareceu e começamos a brincar, porque fazemos isso, mesmo eu tendo quase 25 anos e ela já estar caminhando pros 22. A gente gosta de passar o tempo falando coisas engraçadas uma pra outra, dançando funks dos anos 90 na sala – rebolando como se não houvesse amanhã – e ficar largadas no sofá pensando no quanto seria bom ter energia pra fazer as coisas que a gente realmente quer fazer. Tipo ir desenhar no muro da nossa rua e fechar o braço de tatuagens.
Nesse momento, algo lá no meu interior me lembrou que eu precisava trabalhar. Precisava MESMO. Me voltei pro meu mac, mas agora já estava tarde, eu já tinha que pensar no que fazer pra comer de novo, dobrar as roupas já secas e minha inspiração tinha ido embora junto com os folhetos velhos de pizzaria que eu tinha acabado de jogar no lixo. Tomei um banho delícia pra relaxar e quando entrei no meu quarto minha TV começou a me seduzir canalhamente, e não deu pra resistir a toda aquela programação que parecia ter sido escolhida a dedo pra mim.
Amanhã eu pego firme no trabalho. E concluo que teria sido melhor se eu tivesse passado 10 horas numa sala claustrofóbica de escritório num prédio de 50 andares na Berrini, porque tentar se desvencilhar do ócio diariamente cansa muito mais que trabalhar!
Já participa do nosso grupinho? <3